quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Kelly Slater, olhar ao longe

Com muito esforço, consegui tirar essa foto do Kelly Slater em meio a um mar de gente, na praia da Vila, em 2009. Fica aí uma homenagem a esse Kelly mais maduro, com o olhar ao longe, distante do tumulto que o rodeava.


Kelly Slater no WCT 2009, na Praia da Vila

sábado, 8 de outubro de 2011

Tunica no mar em fúria

Lembro-me daquela manhã de páscoa, em que fizemos todo movimento para o que o surfe acontecesse: acordamos bem cedo em uma manhã com aquele friozinho que dá vontade de ficar embaixo das cobertas só mais um pouquinho, colocamos roupa, pegamos as pranchas, o john, o leashe, a parafina e fomos para o canto do Gravatá. O mar estava gigantesco! O surfe em família era uma das mais belas cenas que pude presenciar com a Tô, o pai João e o irmão Joãzinho. Todos guerreiros e, por incrível que pareça, tranquilos com a ferocidade que iam enfrentar. Perguntei ao João pai se ele não se preocupava com a filha entrando no mar em uma condição daquela. Ele me respondeu: em dias de mar grande, eu fico tranquilo com a Tô, pois eu sei que ela possui os devidos discernimento e respeito com o mar. Ah! Se fosse o meu pai... Bem, a história é outra... Quando a Tô varou aquele marzão de 3 metros que muitos marmanjos não vararam, tive um orgulho indescritível. Ela só fortaleceu ainda mais a imagem da heroína que já permeava a minha mente.


Aí, fica uma homenagem a essa amiga que me ensinou a sentir o surfe no coração com toda a força que a Natureza exprime!


Preparação de manhã bem cedo, saindo da casa de pescador
que a Tô morava na beira da Lagoa da Conceição. Delícia!

O paizão super companheiro!

Todo mundo se aquece junto, se dando a maior força. 
A concentração também é amiga para ajudar a enfrentar 
o que vem pela frente.


Pai e filha analisam onde é melhor entrar, ou melhor, 
onde está um pouco menos stormy.

Coragem é um atributo essencial para ser surfista.
Algumas mulheres têm enfrentado bravamente mares em fúria. 

E a Tunica é uma delas!


quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Antônia Wallig, o exemplo que esse mundo precisa

Tô brincando na Silveira, onde vai 
desde antes de nascer
Imagina um bebê no útero de uma mãe surfista, pegando onda no início dos anos 80. Imagina uma filha surfando junto com o pai no cangote dele. Agora, imagina no que essa criança se transformou. Pois essa menina, a Antônia, de 24 anos, estuda pedagogia e arte terapia e trabalha em um projeto com crianças na Costa da Lagoa de Florianópolis. Além disso, delinea uma onda com fluidez e leveza como ninguém.

João Wallig, o pai da Tô, teve a primeira surf shop de 
 Porto Alegre. Com o dinheiro das vendas, ele, o sócio Tupi e mais dois amigos entraram numa Kombi azul com 14 pranchas dentro. E, do sul do Brasil, foram à Califórnia, surfando todo o caminho, durante um ano, nos anos 70. Surfaram a América Latina inteira. Ele instigou a Antônia a ser a verdadeira surfista de alma que é. E ainda o faz.

A serenidade e o sorriso de Antônia emocionam quando ela remete o 
 surfe à alma: “um sentimento impossível de descrever, que para cada um significa uma coisa. É atemporal. É o melhor contato que tu podes ter contigo mesmo e com o entorno. Envolve muita coisa e não depende só de ti. É um aprendizado imenso, é um contato com as pessoas que estão na tua volta”, tenta pôr em palavras.


Antônia fazendo uma bonita linha na onda

Mas o que realmente toca é alegria dela ao relatar a maneira como foi educada: “toda a minha educação foi baseada no surfe. Então, pra mim, o surfe é a base, no sentido mais essencial da palavra: o surfe é a base mesmo, a base espiritual, física, corporal, de valores. E é uma base que traz muita felicidade”, sorri com orgulho.

Das inúmeras vivências proporcionadas pelo surfe, Antônia salienta o surfe em família. “A sensação de pensar num programa que todo mundo quer fazer e pensar: Vamos surfar! E a família inteira está disposta e pilhada pra ir. É uma sensação incrível!”

Ter surfado e morado em 
 Galápagos, segundo ela “foi extraordinário, extra mundo.” Viajar, cada banho, o primeiro tubo, até estar de fora vendo o surfe rolar são experiências enriquecedoras para ela.

Dar aula de surfe foi outro aprendizado, o qual vivenciou com bastante carinho : “vê que tu podes estar ensinando e passando esse sentimento pras pessoas, e, de repente, dá um click em alguém que tu disseste e mostraste várias coisas. E tu vês que o coração fez puf! pra aquela história. E, por mais que a pessoa ainda não esteja conseguindo surfar, ela sentiu e dali ela surfa mesmo, porque ela sentiu, e tu vê o brilho nos olhos.”

Quando chegou do Equador, Antônia foi convidada por Roger Souto Mayor, do Praia Mole Surf Clube, a dar aulas. E assim o fez em vários lugares da Ilha. Roger propiciou a ela o curso de instrutora e de salvamento aquático. “Foi muito legal, mas é bem desgastante fisicamente, apesar de ser muito recompensador. O retorno financeiro não compensa. Dar aula é incrível. Agora, estou dando aula por moeda de troca, como sessões de Pilates, que dá um bom preparo pro surfe”, conta.

Free surfer de coração, Tô chegou a correr alguns campeonatos de verão em Torres, como a Taça Trópico e os universitários de Florianópolis . “Foi bem divertido, a minha vó na torcida foi ótimo! Mas eu nunca tive muito foco de competição. Em relação ao surfe, prefiro que seja um momento de total liberdade mesmo, porque eu acho que ai está a essência do surfe”, revela o desvelo à liberdade harmonizada com o surfe.
 


Tô, inerente à paisagem, está totalmente integrada com o mar

Desde pequena, Antônia vai para praia da Silveira. Lembra Itapema, o “surfe-de-cangote”. Já surfou em vários lugares como a Ilha de Florianópolis, Maracaípe, Recife, Salvador, Bahia, Rio de Janeiro, Barra do Sahy, Baleia, Camburi, Maresias e tantas outras de São Paulo. “A gente alugava uma casinha no sertão de Maresias, com uma cachoeira atrás. Muito delícia! A gente ia de bike pra praia com uma cachorra do lado e com as pranchas. Surfava no canto do Moreira e em Camburi, uma onda deliciosa”, relembra.

No exterior, Tô já surfou no 
Equador, na Argentina e na Nova Zelândia.Galápagos, para ela, foi uma vivência ímpar: “a onda é tubular, mais amigável, a parede fica te esperando, te mostrando aonde ir. É fundo de pedra. Foi onde eu perdi o medo das pedras.” Aos 15 anos, viajou sozinha à Nova Zelândia, conheceu gente que mostrou a ela bons picos pra surfar

Na vida de Antônia sempre existiu surfe. Sempre tiveram escapadas e matadas de aula pra fazer um bate-volta.

Pra começar a surfar, Tô aconselha a pessoa a observar o próprio movimento e o do mar, pra onde vai a corrente, onde a onda tem mais energia pra levar. “Tudo isso é fruto de muita observação e muito carinho com o mar. Ele te diz aonde ir, e ai o surfe se torna mágico mesmo. Tua energia fica totalmente integrada com a energia do mar. Então, tu aproveitas toda essa força que, ao invés de cansaço, te dá toda uma impulsão pra pegar uma boa parede, um bom tubo, o que tu quiser, o que tu imaginar, o que tu sentir. Respeitar muito o mar e querer junto com o mar. Ir mesmo e pegar marolinha, ficar em pé, cair e curtir a sensação de estar no mar. Curtir estar no mar é a base do surfe”, ensina.

O pai João sempre levou os filhos ( Tô tem um irmão mais novo, o João Felipe ) a experimentar a sensação da entrada do swell. “Quando vai entrar um swell, e o mar está meio balançado, a gente gosta de pegar a corrente que leva pra fora, entrar no mar, ficar lá fora sentindo aquela água que vem por baixo, pelos pés. Saber que está entrando as ondas, que o swell está entrando, só sentir aquele balanço do mar, que tu sabes que depois tu vais pegar boas ondas, sentindo o mar se mexer. Porque o surfe é movimento. E não é só o teu movimento, mas sim de uma série de coisas: do vento, da areia do fundo, do swell, que vem de fora. Tanta coisa tem que se mover pro surfe acontecer. Tanta coisa acontece na Terra pra gente pegar uma onda. Pra gente também é tanta preparação: a gente vai, se está frio, põe roupa de borracha, o leash, entra no mar rema, passa a rebentação. Os poucos segundos que estamos na onda vale todo o movimento que o planeta fez e que a gente fez pra chegar lá.”

Dos tantos ensinamentos, um dos mais bonitos é a comparação que João faz aos filhos das situações da vida com as do surfe. “A vida inteira o pai sempre fez equivalência do que a gente estava vivendo com o surfe. Ele diz: “ô ta massa, levou um ondão na cabeça, mas tu foi lá, passou a rebentação, agora é prender o ar, dar um mergulhão, daqui a pouco vem outra.” Ou comparou com a calmaria, com a serizona que estava vindo. Nos momentos mais difíceis, ele sempre chegou pra gente, deu um exemplo do surfe. E a gente falava: “é só um momento, só uma acontecimento, daqui a pouco vira tudo, muda tudo, o mar fica flat ou vem uma bomba lá fora e tu aprende a andar no movimento. Surfe é movimento. Poder ensinar e ter aprendido isso e continuar aprendendo, por ser movimento tu vai estar aprendendo sempre. É muito legal ter o espelho do surfe na vida.”

Obrigada Tô, pelas sábias e carinhosas palavras.
Tu és o exemplo que esse mundo precisa.
Valeu, irmã!
Que Deus continue a te proporcionar momentos maravilhosos no surfe e na vida!
 




* foto arquivo pessoal
** fotos Rubens Peixoto


domingo, 28 de agosto de 2011

Aos nossos pequenos, a liberdade

Alguém me ajuda a entender
esse mundo em que vivemos.
Pois uma vida assim sem valores
é uma vida de dores.
E onde mais posso encontrar
a esperança para essa confusão
se não, no olhar de uma criança,
no verdadeiro brilho do seu coração.

A história se repete.
E todo amor vira uma prisão.
O pai quer dominar o filho
com a ignorância da sua mão.

Por que, meu Pai, tem que ser assim?
Por que nós seres humanos somos tão precários?
Não vemos nossos filhos pedindo socorro.
Dizendo: "eu só quero seguir o meu itinerário."

Ensina-me, Pai, a fazer uma prece
para tudo isso que carece
de uma simples palavra de união.
Onde só reine a compaixão,
a atenção às nossas crianças,
num generoso ato de humildade.
E que possamos deixar para trás o lamento.
E, no futuro, as nossas heranças,
uma mudança de comportamento.
Aos nossos pequenos, a liberdade,
a felicidade que se faz
uma vida repleta de paz.


Para Lucas, como todo amor da tia Lu.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Eliane Brum, a repórter do invisível

A curiosidade é o alimento da alma.*
Os olhos brilhantes só redundaram ainda mais o olhar atento da menina ao mundo. Assim, vi Eliane Brum, uma repórter da vida que ninguém vê. Prestes a fazer 45, Eliane se demonstra preocupada com a matéria cotidiana. A curiosidade a desperta para as pequenas coisas corriqueiras cujo um olhar apressado não vê. Mas os olhos negros e profundos da repórter se aproximam do invisível e encontram o milagre, o diamante naquilo que ninguém quer saber. "Somos contadores de histórias reais. O nosso primeiro olhar é para dentro. Quem é você? Qual é o seu tamanho?", indaga a voz doce e suave que perfura como uma adaga o ventre, a mesma voz que arranca o extraordinário do desconhecido.
Para a jornalista, também escritora e documentarista, "o desafio nas ruas do mundo é enxergar" e transformar a reportagem em um documento sério e não no filão efêmero de maior vendas. Diante disso, o jornalismo tem como premissa a extrema responsabilidade, pois se pode contar bem ou mal uma história. E, no futuro, esta ser vista de forma verdadeira ou manipulada. Quem saberá a verdade? Brum deixa nas entrelinhas que é o envolvimento maduro com a vida e a missão com a qual o (a) profissional se dispôs a cumprir que produz uma matéria com "contexto, cheiro, textura, gestos e palavras". A disponibilidade para sair da redação e reportar a vivacidade do dia-a-dia com as alegrias e as dores nele contidas perpassa o aqui-agora. "Nós damos permanência à história do nosso país; escrevemos a história contemporânea", ressalta. Por isso, comunicar deve ser levado a sério.
Mais de 20 anos de profissão ainda
é pouco para a jornalista revelar
as vidas que ninguém vê.**
Ganhadora de mais de 40 prêmios, Eliane Brum trabalhou durante 11 anos no jornal Zero Hora, de Porto Alegre, no qual em 1999, criou a coluna A vida que ninguém vê. A ideia surgiu a partir do olhar aguçado frente aos "invisíveis da sociedade", como o homem que come vidro, o doce velhinho dos comerciais que sobreviveu ao Holocausto, o gaúcho do cavalo-de-pau e a menina Camila, a qual teve sinal fechado prematuramente. Essas e outras histórias geraram o livro homônimo da coluna. No ano passado, Eliane deixou a  redação da revista Época para dedicar-se a projetos independentes. "Achei que estava na hora de inventar uma nova vida para mim", despediu-se na coluna online da publicação para qual ainda escreve. E para expressar ainda mais a inquietude, também colabora com artigos no blog Vida Breve.
Um dos grandes feitos dessa repórter dos fatos ignorados foi o documentário Uma história Severina, o qual relata com veemência a inescrupulosidade e a atitude vexatória do poder judiciário em relação à legalização do aborto de feto anencefálico. Antes da denúncia da falta de conhecimento e interesse dos juízes e ministros sobre o assunto, Eliane trata com maior intensidade o drama de Severina, cuja interrupção de gravidez do filho, ausente de cérebro, foi liberada e depois proibida. A peregrinação da mulher por vários hospitais, passando pela escolha da roupinha, em que a vendedora pergunta se ela quer ver outra, e, de imediato, recebe a resposta da mãe já conformada: "não, obrigada, ele não vai sobreviver mesmo", até o nascimento do bebê morto, seguido de velório. Essa é Eliane Brum, nem mais, nem menos, simplesmente guerreira, aberta para o espanto da vida que ninguém vê.

Confira uma parte da entrevista de Eliane Brum cedida ao programa Jogo de Ideias:


Texto Luciana Hoffmann
* foto retirada do blog Comunique-se.
** foto retirada do blog Colecionador de Pedras.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Sorrateiramente pelos pés

Ela chega sorrateiramente pelos  pés, em uma ocupação de sentimentos que ativa o coração. À medida que se adentra, ela toca finamente nas pernas e muda o estado das coisas; energiza cada ponto do corpo, na linha de unificação entre o sexual e o astral, e os torna vivos. Ó, Rainha do Mar!

                     As águas que beijam a Ilha Encantada, com o canto da sereia ao                                                   
                                            amanhecer, quando os primeiros raios de sol começam enfeitar o dia

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Saudação, Mãe Yemanjá, a Rainha do Mar!

Sinto-te no mar, no meu coração, no meu falar, no meu respirar, na minha mente e no céu. No céu, na minha mente, no meu respirar, no meu falar, no meu coração e no mar. Com licença Mãe Yemanjá, que você venha me energizar e, com muito carinho, me abençoar. Alodê, Odofiaba, Minha-Mãe, Mãe-D'água, Odoyá!


O que seria de mim sem você, minha mãezinha, Yemanjá?