A curiosidade é o alimento da alma.* |
Para a jornalista, também escritora e documentarista, "o desafio nas ruas do mundo é enxergar" e transformar a reportagem em um documento sério e não no filão efêmero de maior vendas. Diante disso, o jornalismo tem como premissa a extrema responsabilidade, pois se pode contar bem ou mal uma história. E, no futuro, esta ser vista de forma verdadeira ou manipulada. Quem saberá a verdade? Brum deixa nas entrelinhas que é o envolvimento maduro com a vida e a missão com a qual o (a) profissional se dispôs a cumprir que produz uma matéria com "contexto, cheiro, textura, gestos e palavras". A disponibilidade para sair da redação e reportar a vivacidade do dia-a-dia com as alegrias e as dores nele contidas perpassa o aqui-agora. "Nós damos permanência à história do nosso país; escrevemos a história contemporânea", ressalta. Por isso, comunicar deve ser levado a sério.
Mais de 20 anos de profissão ainda é pouco para a jornalista revelar as vidas que ninguém vê.** |
Um dos grandes feitos dessa repórter dos fatos ignorados foi o documentário Uma história Severina, o qual relata com veemência a inescrupulosidade e a atitude vexatória do poder judiciário em relação à legalização do aborto de feto anencefálico. Antes da denúncia da falta de conhecimento e interesse dos juízes e ministros sobre o assunto, Eliane trata com maior intensidade o drama de Severina, cuja interrupção de gravidez do filho, ausente de cérebro, foi liberada e depois proibida. A peregrinação da mulher por vários hospitais, passando pela escolha da roupinha, em que a vendedora pergunta se ela quer ver outra, e, de imediato, recebe a resposta da mãe já conformada: "não, obrigada, ele não vai sobreviver mesmo", até o nascimento do bebê morto, seguido de velório. Essa é Eliane Brum, nem mais, nem menos, simplesmente guerreira, aberta para o espanto da vida que ninguém vê.
Confira uma parte da entrevista de Eliane Brum cedida ao programa Jogo de Ideias:
Texto Luciana Hoffmann
* foto retirada do blog Comunique-se.
** foto retirada do blog Colecionador de Pedras.