sábado, 7 de abril de 2012

A Menina e a Figueira

Abrir os olhos, encarar a vida e ser realmente feliz.
Cuidar mais de mim, me amar e amar o outro acima de tudo. Estar tranquila. 
Ter Fé!
A Fé em viver, a Fé ao ouvir o silêncio de uma Figueira com mais de 500 anos, a sabedoria desta Figueira, minha amiga, minha irmã, minha acolhida protetora.

De Blog Olhares
...

A Figueira sempre esteve lá. Havia um balanço; doze anos depois já não tinha. E a Figueira parecia lentamente maior.
A Menina tentou subir na Figueira. Afinal, ela sempre gostou de subir nas árvores, ver o campo mais de cima, mais perto do céu.
A luz dourada do cair do dia fazia com que o reencontro da Menina com a Figueira fosse mais leve, mais nostálgico.
A Menina estava com o ar de nostalgia e, por isso, foi ter com a Figueira. Ela sabia que encontraria o simples necessário.
Procurou de várias formas subir na Figueira.
Ela não chegou como sempre chegava: afoita, querendo ir direto ao topo. Não, desta vez e pelo passar dos anos talvez, a Menina foi se aproximando da árvore com carinho, com a lembrança da ternura que aquele tronco, aqueles galhos e aquelas raízes, todos imensos e fortes, remetiam a ela.
Ela precisava conversar com a Figueira. Sabia disso.
Procurou subir, conseguiu atingir um patamar um pouco mais elevado. Viu uma espécie de toca, de gruta no tronco. Lembrou-se do Jequitibá que havia entrado há poucas semanas. Lembrou-se das raízes das árvores.
Ela não conseguiu ir mais acima e resolveu descer, sentou em uma das raízes e ficou olhando o horizonte, sentindo o sol tênue e dourado no seu rosto.
Chorou, a Menina sentia saudades, sentia necessidade da Natureza, sentia falta da pureza, da simplicidade.
De repente, ouviu chamarem o seu nome. Era sua amiga, amiga de longa data, dona da casa, quem a havia apresentado a Figueira.
A Menina foi falar com ela. Ela disse simplesmente: "sabia que estava aqui". Abraçaram-se. A Menina disse a outra que queria subir, mas não tinha conseguido. A amiga lhe disse: "por que não tenta por esse galho?"
A Menina olhou o galho que era como um tronco cujo fim ficava paralelo ao chão. Ela deu um salto e seguiu o galho até um ponto no qual ela ficava em uma altura que lhe era agradável. A Menina não ousou ir mais, apesar de querer. Estava com um vestido longo que dificultava a escalada e não quis se arriscar mais. A amiga a deixou, e a Menina ficou sentada no galho, olhando o sol no horizonte e ouvindo o que aquela árvore centenária lhe dizia.
A Figueira bastante carinhosa lhe falou sobre valores da Natureza, de como a paciência tem a ver com solidez e enraizamento. Quando a brisa do vento passou, ela entendeu o que era ser forte. A árvore lhe disse que era preciso saber escutar o silêncio, que a Menina poderia contar com ela sempre, pois estavam juntas há bastante tempo. A Menina sentiu que podia ficar por bastante tempo naquele galho. Imaginou-se como um índio que sentaria no galho e veria a variação do dia e da noite e entenderia um pouco sobre o silêncio e a paciência. Talvez a Menina tivesse escutado mais, serenasse mais, ainda que estivesse mais calma e serena.  
Chegou o momento da menina ir. Ela agradeceu à Figueira, a Deus por aquele instante. De certa forma, essa relação a retornava à sua essência de bicho, de mato, de pé-no-chão na Natureza. Ela inspirou profundamente e pediu ao seu mentor que a orientasse na descida. Lembrou-se do que um amigo já havia a ensinado: "esteja sempre com três apoios, quando for tirar um, certifique-se de que estás com pelo menos três apoios firmes". E, assim, foi descendo daquela linda e sábia Figueira, ouvindo as últimas palavras: "volte sempre".